Seu Alfredinho é meu vizinho.
Há nele alguma coisa que me incomoda muito e no domingo passado descobri o que é.
O que me incomoda no Seu Alfredinho é a solidão. Solidão dele. Solidão de não ter ninguém. Ou de ter tido alguém.
Estava no meu quintal brincando com meus filhos, quando vi o vulto dele no portão. No cumprimento cordial de bons vizinhos, notei algo errado nele.
- O Sr. está se sentindo bem?
- Não, minha filha. Meus 90 anos estão ficando pesados. Tenho muita tonteira e não estou enxergando nada. Todo dia peço à Deus para me levar, para que eu tenha meu descanso.
Pensei na solidão que a velhice pode trazer. Na dor do abandono. No silêncio da tristeza. Na decepção que é criar filhos, educá-los, cuidar, amar e amar e depois ser esquecido, ficar jogado e diminuído.
Fiz um bolo. Levei para Seu Alfredinho que me agradeceu com um olhar afetuoso e um abraço apertado.A tarde passou gostosa e descobri que a dor do meu vizinho é a dor da alma. Dor que com o tempo, nem incomoda mais.
A inquietude dele e a ânsia em falar sobre sua vida fizeram-me pensar no meu pai. No quanto meu amor por ele é grande e que jamais, em momento algum da sua vida, vou deixá-lo só.
Aquela tarde tão farta de descobertas, me ensinou muito. Mas, a esperança vazia do meu vizinho e sua espera pela morte continuam me incomodando, muito, um tanto.
Seu Alfredinho.
Marcadores: Seu Alfredinho
Traição.
Hoje, escrevo porque dói.
Os motivos pesam a cabeça, doem o coração.
Dor de doer. Dor que diminui, resseca o peito, transforma conceitos.
Dor que é só dor. Que incomoda e ignora a beleza da vida.
Dor que indigna. Que estagna e faz movimento, só por dentro, mas, que é de dor. Só dor.
Dor, dor, dor. Mais dor.
Passa dor!
Vai passar, eu sei.
Num sopro do tempo eu sei que ela vai desvanecer.
Sopra tempo! Sopra! Tira essa dor daqui!
Marcadores: Traição
Outono.
Esse frescor, que sopra minha alma.
Traz no vento um gesto de aconchego.
A tarde fria me faz buscar algumas respostas.
O degradê traz no horizonte, o anúncio do fim do dia. O olhar, o desejo do silêncio que reina na noite.
As folhas abastecem o solo com gracejo. Tocam a superfície, como aquelas lembranças que nos fazem refletir. Imaginar. Sonhar.
Esse tempo. Esse vento. Esse viço.
O aroma. A sensação. Algo desperta, pleno, firme, intenso.
Bem vindo, outono!
Marcadores: Estações