Para um final de dia, que se é sexta-feira nada melhor que a reticências: tudo pode acontecer.
Começo ou término. É assim. Sem fim.
...
Reticências.
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Sem tempo.
Ando sem tempo.
Sem tempo para escrever.
Sem tempo para pensar na vida.
Sem tempo para os filhos.
Sem tempo pra mim.
O tempo vai célere, escapa pelas mãos, voa num piscar dos olhos. Voa para vida, voa da vida; como num ciclo: vai e volta, sem cessar.
Tempo do tempo. Tempo permeável quando ele quer. Impermeável quando se precisa dele.
Tempo que engole. Que sopra. Shuuuuuu...
Tempo que não volta.
Ando sem tempo. O próprio tempo anda sobre mim... E corre! Corre sem parar, sem cansar.
Cheiro.
Vida é cheiro. Morte também.
Tudo tem sua essência. E a essência de cada coisa, de cada pedaço da vida, de cada movimento é o cheiro.
Chuva, por exemplo, tem aquele cheirinho de terra molhada. Ou de asfalto quente, sendo resfriado aos pingos ou, de uma vez só.
Outono, tem cheiro de vento frio. No final do dia, ele vem para nos lembrar de que um rigoroso inverno está por vir.
Frio tem cheiro de aconchego. Edredom. Sopa quentinha feita pela mãe que está em casa, esperando nosso retorno no final do dia, com um sorriso e abraço acolhedor.
Verão tem vontade. Muita. De viver intensamente. Tem cheiro também. Cheiro de água tocando o corpo, lavando a alma, deixando a gente com aquela sensação boa, aquele sentimento gostoso de que vida é pra ser. Acontecer.
Final de expediente tem cheiro de buteco, conversa com os amigos, encontros furtivos, retorno para casa. Descanso. Silêncio.
Tudo é cheiro. Mas, o que mais fascina é o cheiro de gente, da multiplicidade que ele tem.
Sim! Porque gente tem cheiro de gente. Cheiro de perfume, ou do próprio cheiro. Suor. Cheiro de alegria. De amor. De mãe, de pai, filho, de aconchego. Tantos cheiros bons...
Gente também tem cheiro de tristeza, talvez momentânea, ou uma herança doída de uma vida difícil. Cheiro de mágoa, de briga com o mundo. Ah! esses cheiros.
De todos eles, o que mais me choca é o cheiro do sofrimento - causado especialmente pela solidão. Esse cheiro de quem vive nas ruas e vive delas é assim: complexo em sua dor e no seu modo de sentir. Gente que vive assim, vira lixo. Come lixo. Dorme no frio. Fuma, rouba, prostitui-se. Mata. Gente que cheira pra não ver a verdade.
Tantos cheiros e infindáveis histórias. Para cada pedaço da vida, um cheiro.
Hoje o meu cheiro é de alegria. De admiração pela vida. Só dela. Cheiro de que vem coisa boa por aí. Cheiro da esperança. Você consegue sentir?
E então? Que cheiro você tem hoje?
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