Tio Luiz.

Meu tio se vai...

Aos poucos... A cada minuto... Ele se vai...

Cansado de lutar, seu corpo já não suporta tanto sofrimento, tanta dor...

E ele se vai... A cada lágrima nossa, cada oração, cada gesto de carinho.

Não há mais o que fazer, dizem os médicos, agora é só esperar...

Esperar a morte. Como se ela já não fosse condição intríseca da própria vida. Ambas nascem juntas. Não é doloroso isso?

A dor é mais aguda, quando a morte está perto. De frente para nós. A espera do próprio tempo.

E o tempo dá sinais de que meu Tio precisa ir... Precisa descansar...

Vá Tio...

Vá nos braços do Pai. Encontre a justa paz e o repouso para a dor.

Confie...

Renasça.


...

Cuidado.

Ao chegar em casa me deparo com um copinho vermelho em cima da mesa.

Dentro dele havia uma das coisas que mais gosto: um pedaço de bolo de chocolate envolvido num guardanapo.

Eu pergunto pra Aninha de quem é aquela gostosura.

- Mamãe, hoje teve festinha lá na escola. Papai Noel levou o bolo e eu pedi a ele que me desse um pedaço bem grande para você.

Nisso ela me olha com aquele olhar mais afetuoso e me dá um beijo tão doce quanto o bolo:
- Amo você, mamãe.

Minha pequena companheirinha desde de cedo já cuida de mim. E eu sinto um orgulho imenso por isso.

...

Chuva.

Chuva cai fina lá fora.

No interior do pequeno restaurante está quente. Acolhedor.

De frente para a janela jantamos. Ambos. Um ao outro. Coisa de alma.

Ele me olha, delicado.

Suas mãos procuram as minhas. Um toque, me conquista.

Um sorriso. Me entrego.

A conta.

Vamos?

Abro meu guarda-chuva.

Ele me abraça, pra me proteger. E me conquista de novo.

Confissão.

Eu confesso,

desconverso,

converso,

conservo,

meus segredos,

mais transgressos,

repletos,

de reflexos,

desconexos,

e recebo um amplexo,

terno,

do padre perplexo.

Querer.

Quero um amor novo. Definitivo.

Alguém assim... Especial.

Que venha imerso em si mesmo, só assim conseguirá se doar.

Quero um amor.

Nem menor, nem maior. Do tamanho certo, como deve ser.

Quero a partilha de segredos, a cumplicidade dos problemas, o sorriso para os sentimentos mais inversos.

Quero um amor.

Que venha de braços abertos. Com a intenção de ser eterno, de ser infinito.

Que nasça e cresça simples. Que perdure... ainda que ingênuo ganhe complexidade, toda a verdade.

Quero um amor.

Amor inteiro. Intenso. Profundo.

Quero...

Estou esperando. Um dia ele vem. Eu sei.

João Roberto.

Silêncio.

Mais uma impunidade.

Mais repúdio.

Menos tolerância.

PM foi absolvido.

...

Sinais.



O mundo está mandando seu recado, alguns nas entrelinhas, outros bem explícitos mesmo.

A tragédia da Santa Catarina é mais um aviso da natureza, sobre seu cansaço, seu esgotamento.

Obama elege-se presidente. É negro. E recado do mundo: é preciso mudar conceitos, vencer os preconceitos, as pessoas querem mudanças - não é a toa que reelegemos o Lula.

Morre Isabella. Morre Eloá. Morrem Marias, Joaquins, Fernandas...

O mercado de ações sofre com empréstimos indevidos, o mundo entra em recessão. Até onde a competitividade deve ir em favor do capitalismo?

Avanços. Retrocessos.

Todos os dias recebemos um sinal. Tudo pede urgência, atitude, renovação.

Está na hora de mudar. Em favor do mundo, à favor de nós.

Cúmplices.

Você sai. Eu me escondo.

Foi melhor assim.

Eu sei. Você também.

Com o passar do tempo, percebo um buraco, sabe? Uma inconstância. Um incômodo de que algo está sem ser completo, está por estar.

Tinha que ser. Nós sabemos. Até no rompimento, somos cúmplices.

...

A crise.

Para entender o que está acontecendo no mercado Americano, lá vai.

É assim: O seu Manoel tem um bar, na Vila Bebum, e decide que vai vender cachaça 'na caderneta' aos seus leais fregueses, todos bêbados, 90% desempregados. Porque decide vender a crédito (fiado), ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o overprice, conhecido como custo econômico, que os pinguços pagam para encher a cara sem pagar pelo crédito adiantado).

O gerente do banco do seu 'Manel', um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo (valor) recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento tendo o pindura dos pinguços desempregados como garantia.

Uns seis zé-cutivos de grandes bancos, mais adiante, lastreiam (dão como garantia) os tais recebíveis do banco do seu Manoel, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer e só descobre depois que perde tudo.

Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (a pindura do bar).Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.

Até que alguém descobre que os pinguços da Vila Bebum não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu 'Manel' vai à falência e o mundo todo 'sifu' junto, inclusive quem não bebe e nunca foi à Vila Bebum.

SIMPLES.

(autor desconhecido)

Volta.

As palavras enamoram minhas mãos.

O desejo se impõe ao pensamento, austero.

As idéias brotam, florescem da alma.

Sentimentos ganham força, personificam.

O desejo de escrever sobre algo, qualquer que seja, faz parar a rotina, faz silêncio aqui dentro. Um silêncio assim, de reflexão e introspecção.

É hora de escrever.

Leveza.




Tô assim hoje.
Leveza absurda. Profunda.
Como se estivesse nadando.
Nadando na vida, exercitando todo corpo e mente.

...



30.

30 desejos.

30 beijos.

30 sonhos.

30 loucuras.

30 motivos para ser feliz. Sendo que poucos motivos já bastam: saúde, paz e amor.

30. Número redondo. Impositivo. Marcante.

Número bonito. Expressivo.

30 primaveras. Outonos. Inverno e verão.

30 anos. Três décadas. E tantas outras que virão.

30 tentativas. E mais 30. E mais 30. Sem cessar, no ciclo evolutivo.

30 perdas. 30 ganhos. 30 tantos... e mais tantos.

30. Só 30. Que hoje são meus, amanhã de outrem.

Mais 30. De felicidade. E agradecimento. À Deus, pela oportunidade maravilhosa de viver e de ser.

Feliz 30! Parabéns para mim!

Herança.

Da minha mãe, herdei a garra. Vontade de fazer acontecer. E faço.
Herdei a maternidade consensiosa, que algumas vezes é atroz com a narradora da história.
Herdei a habilidade de escutar as pessoas, de falar sem que peçam, dizer o que penso.
Herdei uma força descomunal ao lidar com a dor.
Herdei a fé. Incondicional.
Herdei também a preocupação com as pessoas. Das pessoas.
Não herdei o gosto exagerado pelo cigarro. Nem a troca da água pela coca-cola.

Do meu pai, herdei a fofura. Formas arrendondas.
O gosto pela boa música popular brasileira.
Um senso crítico fora do comum.
Herdei o gosto pela leitura.
O gosto pela reunião dos amigos. Com os amigos. Para os amigos.
Herdei também a habilidade pela improvisação ao cozinhar. Temperar. Descobrir.
Dele, não herdei a paixão pelo futebol. Nem da cervejinha.

De mim, João herdou o prazer em brincar e brincar. "Carpe Diem".
Um prazer incansável em desvendar pequenos mistérios, que no seu mundo são grandes desafios.
Herdou também a habilidade com as letras, o que pela idade me impressiona muito.
Herdou uma reserva, uma distância de quem não se conhece, só por garantia.
Herdou um prazer pelas histórias, pela fantasia, pelo inimaginável.

Aninha, herdou a personalidade marcante. Forte. Não aceita imposição por si só, sempre tem que haver uma explicação.
Herdou também, as formas arrendondadas.
Herdou uma vaidade plena. Por já saber que é mulher.
Herdou um jeito sapeca de conquistar as pessoas. E desbanca qualquer intenção com um sorriso.
Herdou meu jeito de falar alto. E também uma teimosia irritante.
Herdou uma força incomum. Que me ensinou muito.
Herdou o sonho feminino. De princípe e princesa. Um conto. Sua própria fantasia.

Ausência.

Dia desses recebi uma foto de uma amiga grávida de sete meses.

A foto dela me deu uma saudade de ter barriga grande, sentir sono sempre, acordar de madrugada a cada 20 minutos para fazer xixi, enfim... saudade da minha gravidez.

Gravidez que parecia não ter fim. Gravidez de uma angústia apática, de um sentimento de perda. Perda de mim mesma. Perda e morte de uma velha mulher.

No e-mail, minha amiga descreve a sensação de estar grávida e fala com ternura do marido. De como ele ficou mais interessante depois que se descobriu Pai.

Nessa frase, confesso, fiquei com inveja. Inveja boa (se é que isso existe) de querer ter para si, algo semelhante que outro tem. O que ela tem, e terá assim que a Manu nascer.

Não culpo o pai dos meus filhos pela ausência. As coisas foram como tiveram que ser.

Mas eu queria, queria muito.

Queria ter tido, queria sim, alguém para aquecer meus pés de noite. Alguém pra tirar fotos e mais fotos de cada dia da gravidez - e espalhá-las pela casa. Alguém para me acompanhar nas consultas médicas e se emocionar nos exames de ultrasom, se emocionar com o som do coraçãozinho dos bebês.

Alguém para encostar a cabeça na minha barriga, que não seria mais minha e sim "nossa", e fica horas infindáveis conversando, cantando, tentando entender cada movimento, cada resposta.

Queria ter tido, a mão amiga para segurar a minha, na hora da cesárea. A mão para afagar meus cabelos e dizer que estava tudo bem, que ele estava ali junto de mim. Esperando nossos filhos.

Queria ter tido, a companhia nas primeiras madrugadas cansativas e pesadas. Embora tivesse o apoio e carinho da minha família, ainda sim, eu queria ter tido.

Queria ter tido a presença do pai dos meus filhos, qualquer pai, que fosse apenas pai.

Pai que hoje, faz falta quando chega o dever de casa e nele pede-se para entrevistá-lo.

Pai que faz falta no dia-a-dia. Para levar na escola, ir à reunião de pais, levar na praça.

Pai que faz falta para jogar bola com o João.

Pai que faz falta para explicar à Aninha o que ele faz no seu trabalho.

Pai que faz falta. Muita falta.

Que constrói. Acompanha. É amigo.

Sinto falta de um pai. Pai para meus filhos.

Vazio.

Sabe quando você tem a sensação que tá faltando algo?

Vazio absoluto?

Tô assim.

E o pior (ou melhor), tô me sentindo ÓTIMA!!!!!!!!

Parece que tudo tá no lugar, caminhando, crescendo, acontecendo.

O vazio deve ser da inércia das mudanças, situações inusitadas, ou sei lá, porque tudo está como deve ser.

Vazio bom. Prazeroso.

Vazio de preenchido. De paz. Tudo tranquilo...

Vazio bonito.

Viva meu vazio!!!

Riqueza

Um sorriso. Dois.

Abraço e olhar carinhoso.

Afeto.

Dengo e aconchego.

Mais dengo.

Palavras mágicas. De pura verdade.

Entendimento. Respeito.

Ciúme de um e de outro.

Construção diária de amor. E mais amor. Amor, amor e amor.

Cada dia, fico mais rica. Enriquecimento que enche a alma. Traz sentido para tudo. É tudo.

Rica de amor. Muito amor... e mais amor. Até não caber mais (e sempre cabe!)

João e Ana. Riqueza nobre, digna de uma rainha.

Assim que me sinto. Assim eu sou.

Férias.

...

...

...

Pausa para tudo.

Quero nada não.

Só ver o tempo passar.

D e v a g a r . . .

Vilarejo.

Outra delícia de Marisa Monte.

...

Há um vilarejo ali
Onde areja um vento bom

Na varanda quem descansa
Vê o horizonte deitar no chão
Pra acalmar o coração
Lá o mundo tem razão
Terra de heróis, lares de mãe

Paraíso se mudou para lá

Por cima das casas cal
Frutas em qualquer quintal

Peitos fartos, filhos fortes
Sonhos semeando o mundo real
Toda a gente cabe lá
Palestina, Shangri-lá

Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa

Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas pão
Flores enfeitando

Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for

Vem andar e voa
Vem andar e voa
Vem andar e voa

O rio.

Poesia para o ouvido e coração. Amo Marisa Monte.

...

Ouve o barulho do rio, meu filho
Deixa esse som te embalar
As folhas que caem no rio, meu filho
Terminam nas águas do mar
Quando amanhã por acaso faltar

Uma alegria no seu coração
Lembra do som dessas águas de lá
Faz desse rio a sua oração
Lembra, meu filho, passou, passará

Essa certeza a ciência nos dá
Que vai chover quando o sol se cansar
Para que flores não faltem
Para que flores não faltem jamais

Bob.


Hoje o dia está assim, ESCURO. Incômodo.


Bob se foi . . .

Colônia Santa Izabel.

Em Betim, existe um lugar único. Melancólico. Sofrido.

Quando se avista o pequeno lugarejo, tenho a sensação de que estou numa cidadezinha interiorana, miúda em sua extensão, simples nos seus casebres, triste e devagar. O olhar dos seus moradores reflete uma consternação doída. Desmedida.

Já havia algum tempo que eu não ia lá, nas costumeiras tardes dos sábados de meses pares. Um grupo, muito especial, faz o que chamamos de "tarefa assistencial" e percorre as enfermarias e casas com o objetivo de aliviar a dor, a solidão, o desamparo.

Ao chegar no Centro Irmã Scheilla, o grupo se divide em dois: um visita a enfermaria e o outro vai às casas. Desta vez, diferente das outras, escolhi ir aos lares.

O primeiro deles é a casinha verde, em frente ao Centro, que ainda está no reboco, sem laje, coberta por um telhado colonial. Logo na entrada, uma menininha simpática, dos seus 7 anos nos recebe com um olhar curioso e admirado. Ao entrar na casa, me deparo com o Júnior - um menino de 15 anos, tomando colheradas de pão sovado no leite, dadas por sua mãe. Sua mãe não tem mais que 36 anos.

O Júnior tem paralisia cerebral. A mãe do Júnior tem aids. Sua avó tem hanseníase.

Eu fiquei fascinada pelo olhar do Júnior. Ele tem rosto de anjo. Cabelos negros, tão pretos como os seus olhos. E uma inquietação que pedia afago, carinho.

Coloquei minhas mãos sobre suas costas e comecei a conversar com ele. Eu queria muito que ele me entendesse. Era como se eu quisesse me escutar. Ou escutá-lo. Entender. Compreender.

Não consegui conter minhas lágrimas. Abracei a mãe do Júnior e chorei feito criança. Fiquei envergonhada com meus problemas, que são tão pequenos, tão medíocres, tão sem sentido.

Depois da casinha verde, veio a casa amarela-suja, a casa azul-desbotada, a casa-rosa da Dona Cecília e mais algumas outras.

Tantas casas. Tanto sofrimento. Tanta dor. Mas, todas elas, todas essas casas tinham uma coisa impressionamentemente comum: A fé em Deus. A aceitação resoluta da sua condição.

Sem palavras para encerrar o texto.

...

A Colônia Santa Izabel foi construída com a finalidade de abrigar os enfermos de hanseníase em regime de confinamento obrigatório, seguindo a política sanitarista adotada pelo país na década de XX.

Seu projeto arquitetônico era semelhante a de uma pequena cidade e foi construída para ser o segundo maior centro de tratamento de hanseníase (conhecida popularmente como lepra) no país.

Hoje, a Colônia além das enfermarias, tem ao seu redor moradores portadores da hanseníase.

Reticências.

Para um final de dia, que se é sexta-feira nada melhor que a reticências: tudo pode acontecer.

Começo ou término. É assim. Sem fim.

...

Sem tempo.

Ando sem tempo.

Sem tempo para escrever.

Sem tempo para pensar na vida.

Sem tempo para os filhos.

Sem tempo pra mim.

O tempo vai célere, escapa pelas mãos, voa num piscar dos olhos. Voa para vida, voa da vida; como num ciclo: vai e volta, sem cessar.

Tempo do tempo. Tempo permeável quando ele quer. Impermeável quando se precisa dele.

Tempo que engole. Que sopra. Shuuuuuu...

Tempo que não volta.

Ando sem tempo. O próprio tempo anda sobre mim... E corre! Corre sem parar, sem cansar.

Porque eu amo tanto.

Nem preciso dizer nada.

Cheiro.

Vida é cheiro. Morte também.

Tudo tem sua essência. E a essência de cada coisa, de cada pedaço da vida, de cada movimento é o cheiro.

Chuva, por exemplo, tem aquele cheirinho de terra molhada. Ou de asfalto quente, sendo resfriado aos pingos ou, de uma vez só.

Outono, tem cheiro de vento frio. No final do dia, ele vem para nos lembrar de que um rigoroso inverno está por vir.

Frio tem cheiro de aconchego. Edredom. Sopa quentinha feita pela mãe que está em casa, esperando nosso retorno no final do dia, com um sorriso e abraço acolhedor.

Verão tem vontade. Muita. De viver intensamente. Tem cheiro também. Cheiro de água tocando o corpo, lavando a alma, deixando a gente com aquela sensação boa, aquele sentimento gostoso de que vida é pra ser. Acontecer.

Final de expediente tem cheiro de buteco, conversa com os amigos, encontros furtivos, retorno para casa. Descanso. Silêncio.

Tudo é cheiro. Mas, o que mais fascina é o cheiro de gente, da multiplicidade que ele tem.

Sim! Porque gente tem cheiro de gente. Cheiro de perfume, ou do próprio cheiro. Suor. Cheiro de alegria. De amor. De mãe, de pai, filho, de aconchego. Tantos cheiros bons...

Gente também tem cheiro de tristeza, talvez momentânea, ou uma herança doída de uma vida difícil. Cheiro de mágoa, de briga com o mundo. Ah! esses cheiros.

De todos eles, o que mais me choca é o cheiro do sofrimento - causado especialmente pela solidão. Esse cheiro de quem vive nas ruas e vive delas é assim: complexo em sua dor e no seu modo de sentir. Gente que vive assim, vira lixo. Come lixo. Dorme no frio. Fuma, rouba, prostitui-se. Mata. Gente que cheira pra não ver a verdade.

Tantos cheiros e infindáveis histórias. Para cada pedaço da vida, um cheiro.

Hoje o meu cheiro é de alegria. De admiração pela vida. Só dela. Cheiro de que vem coisa boa por aí. Cheiro da esperança. Você consegue sentir?

E então? Que cheiro você tem hoje?

Verdade.

Pra falar a verdade ando sem inspiração nos últimos dias.

Dias que têm sido de auto-reflexão e muitos questionamentos.

Será que eu penso demais? É mais fácil não pensar?

Pensar às vezes incomoda e inicia movimento.

E o movimento vai lentamente mudando situações. Ou não muda, porque não era para mudar. Era para ficar estático e incomodar como vem me incomodando.

Não sei... Às vezes, sinto que não sei nada. Várias vezes, tenho certeza de que sei tudo.

Porque é tão complicado a gente se entender?

Sinceramente, eu não me entendo. E por mais que eu tente me entender, não chego a um veredito final. Sou uma pessoa em movimento e mudo diariamente, toda hora, todo minuto. Porque não todo segundo?

Daí eu cheguei a uma conclusão!

É a minha verdade, portanto, se alguém não concorda comigo - no problem.

De verdade, eu acho que ninguém se entende por completo. Se diz, se entender, eu duvido. Ou se realmente se auto-entende, tá blefando - me passe a fórmula? Tô ficando biruta de tanto tentar me entender.

Quatro anos.

Há quatro anos descobri um amor que é só amor.

Há quatro anos senti um medo indescritível pelo que o desconhecido podia me trazer. Senti alegria também. Uma alegria de alma, uma ânsia para descobrir o que se é, quem é.

Há quatro anos reaprendi a aprender de novo.

Há quatro anos nasci. Nasci mãe. Nasci mulher, mais mulher. Renasci frágil numa fortaleza incomum.

E vi no meu fortim, nascerem João e Ana.

João robusto, imponente, de bochechas rosadas e sorriso acolhedor. Já vi nele um homenzinho.

Aninha frágil, delicada, miúda e com necessidade de abraço, de cheiro, de afeto. Nela, encontrei incerteza, que logo se quietou com sua vontade da vida.

Ambos me ensinaram muito. Me ensinam todos os dias. Tudo se faz refletir.

Hoje é um dia especial e só nosso. Hoje. 4 anos. Muito se passou e muito virá.

Parabéns, Aninha e João. E obrigada por tudo. Amo vocês.

Seu Alfredinho.

Seu Alfredinho é meu vizinho.

Há nele alguma coisa que me incomoda muito e no domingo passado descobri o que é.

O que me incomoda no Seu Alfredinho é a solidão. Solidão dele. Solidão de não ter ninguém. Ou de ter tido alguém.

Estava no meu quintal brincando com meus filhos, quando vi o vulto dele no portão. No cumprimento cordial de bons vizinhos, notei algo errado nele.

- O Sr. está se sentindo bem?

- Não, minha filha. Meus 90 anos estão ficando pesados. Tenho muita tonteira e não estou enxergando nada. Todo dia peço à Deus para me levar, para que eu tenha meu descanso.


Pensei na solidão que a velhice pode trazer. Na dor do abandono. No silêncio da tristeza. Na decepção que é criar filhos, educá-los, cuidar, amar e amar e depois ser esquecido, ficar jogado e diminuído.

Fiz um bolo. Levei para Seu Alfredinho que me agradeceu com um olhar afetuoso e um abraço apertado.A tarde passou gostosa e descobri que a dor do meu vizinho é a dor da alma. Dor que com o tempo, nem incomoda mais.

A inquietude dele e a ânsia em falar sobre sua vida fizeram-me pensar no meu pai. No quanto meu amor por ele é grande e que jamais, em momento algum da sua vida, vou deixá-lo só.

Aquela tarde tão farta de descobertas, me ensinou muito. Mas, a esperança vazia do meu vizinho e sua espera pela morte continuam me incomodando, muito, um tanto.

Traição.

Hoje, escrevo porque dói.

Os motivos pesam a cabeça, doem o coração.

Dor de doer. Dor que diminui, resseca o peito, transforma conceitos.

Dor que é só dor. Que incomoda e ignora a beleza da vida.

Dor que indigna. Que estagna e faz movimento, só por dentro, mas, que é de dor. Só dor.

Dor, dor, dor. Mais dor.

Passa dor!

Vai passar, eu sei.

Num sopro do tempo eu sei que ela vai desvanecer.

Sopra tempo! Sopra! Tira essa dor daqui!

Outono.

Esse frescor, que sopra minha alma.

Traz no vento um gesto de aconchego.

A tarde fria me faz buscar algumas respostas.

O degradê traz no horizonte, o anúncio do fim do dia. O olhar, o desejo do silêncio que reina na noite.

As folhas abastecem o solo com gracejo. Tocam a superfície, como aquelas lembranças que nos fazem refletir. Imaginar. Sonhar.

Esse tempo. Esse vento. Esse viço.

O aroma. A sensação. Algo desperta, pleno, firme, intenso.

Bem vindo, outono!

Feriado.

Pergunta que não quer calar: após um feriado prolongado, existe férias de mãe?

Cansaço hoje está pulsante...

Primeiro Dever de Casa.

Aquelas maõzinhas redondinhas, ávidas em sua procura pela cor mais bonita, fizeram crescer um sentimento tão bom dentro de mim, que eu diria ser inexplicável.

Uma alegria indescritível no rosto da minha Aninha, me fez entender que as pequenas coisas ganham dimensões gigantescas quando temos um filho. Um simples dever de casa trouxe a mim uma sensação prazerosa de descoberta. De orgulho. De amor. Muito amor.

Seus olhinhos atentos não queriam perder nenhuma linha, nenhum detalhe do desenho de páscoa. Pequenos ovinhos dispostos num cesto, traziam uma porção de letras, carregadas por um vistoso coelhinho.

Na parte superior, um texto pedia que fosse identificada a primeira letra do nome.

- Aninha, qual é a primeira letra do seu nome?

- É Aninha, mãe.

- Não, meu amor, a primeira letra.

- Ana Clara!

- Não, minha filha. A primeira letra do seu nome é a letra "A"... então, qual é a primeira letrinha do seu nome?

- Ana, mãe! A-NA CLA-RA. Viu? Eu já sei falar a letra do meu nome! Agora eu posso brincar com o João?

Ser mãe é um exercício de amor. E de paciência também.

Futuro.

Fui convidada por um colega jornalista a fazer uma entrevista para nossa intranet. Segundo ele, eu represento uma mulher "moderna" de multifunções, e meu perfil seria perfeito para homenagear todas as colegas do nosso trabalho.

Fiquei feliz com isso. Ultimamente ouço as pessoas se referirem a mim, como uma mulher batalhadora, que sabe o que quer. Minha terapêuta me disse que eu sou uma "guerreira".

Então... de volta a entrevista: foi super legal, fiquei até emocionada ao responder algumas perguntas e confesso fiquei orgulhosa com algumas respostas. Para finalizar, ele me vem com essa: E, o futuro? Quais são seus planos?

...

Eu fiquei tão perdida com a pergunta e não soube responder... fiquei com vergonha mesmo. Imagina, uma mulher de 29 anos, que ainda não sabe o que quer.

Tentei enrolar e respondi sobre alguns projetos que tenho mas, a resposta não convenceu a mim mesma. E passei o resto do dia incomodada com isso.

NÃO sei o que quero para o meu futuro. Não SEI onde quero estar. Não sei o que quero. Não sei mesmo. Nã, nã, ni, na, não.

Então eu lembrei daquele vídeo Filtro Solar, em que num dos trechos é assim: "As pessoas mais interessantes que eu conheço não tinham, aos 22 anos, nenhuma idéia do que fariam na vida. Algumas das pessoas mais interessantes de 40 anos que conheço ainda não sabem."

Fiquei aliviada. Ainda não sei. E acho que vou chegar aos 40 sem saber.

Impaciência.

Segunda-feira.

Dia perfeito para ir ao supermercado fazer as compras do mês.

Pego os meus pequetitos, João Vitor e Ana Clara, e vamos juntos a uma aventura em que tudo seria possível. Primeiro por causa do horário - 19h, isso num dia comum é a hora do banho e do pijama e segundo porque EU vou SOZINHA com os dois. Sem carro, sem acompanhante, sem carregador, nadinha...

A maratona começa num só entusiasmo. Imagina a cena: Eu, João e Ana em nossa primeiríssima compra, para nossa casa, "nossa casinha nova" - como diz o João.

A aventura começa nos corredores mais básicos: arroz, feijão, macarrão, farinha, fubá... e depois a festa: biscoitos, queijo, iorgute, e todas aquelas coisas que nos deixam felizes e engordam (grrrr!).

Nem percebemos o tempo passar. Carrinho cheio. Sensação de "dever cumprido". Tudo bem que ficamos umas duas horas lá, mas a sensação de independência compensa tudo! Quase terminando, já na sessão hortifruti, o João, meu Joãozinho me vem com essa: - Mãe, você não acha que já comprou muito? Você compra demais Mãe! Vamos embora?

Impaciência masculina. Começa desde cedo e pelo visto é incurável.

Minha foto
Eu sou assim. Um pouco de tudo, solta no mundo, sem molde definido. Tenho algumas convicções, mas nada eterno. Gênio forte, às vezes muito impositiva. Sou um paradoxo de mim mesma. Frágil, mas forte. Séria, mas palhaça. Mulher, mas menina. A única coisa que quero nesta vida é paz. Paz de consciência, paz de espírito. Paz e tranquilidade com a convicção de que fiz o que havia de ser feito. Amo a lua. Sou virginiana, mas acredite, meu signo me contradiz. Hoje, antes de tudo, sou mãe. E, esta é a melhor opção que fiz pra mim. E pra eles. Amo chocolate. Meu Deus está num pote de sorvete de maracujá. Não tenho mais segredo. Só alguns medos. Muitos sonhos.

Sobre este blog

Escrevo porque descobri que gosto. Gosto de brincar com as letras, palavras e idéias. Escrevo porque me descubro. Escrevo sem compromisso. Nem preocupação. Só por escrever. Escrevo de uma vez. Não tem correção. Desta forma, mantenho a autenticidade. Então, se você achar algum erro, perdoe-me, não há como corrigir. Um texto já pronto não pode ser reescrito, perde o sentido. Então escrevo...