Seu Alfredinho é meu vizinho.
Há nele alguma coisa que me incomoda muito e no domingo passado descobri o que é.
O que me incomoda no Seu Alfredinho é a solidão. Solidão dele. Solidão de não ter ninguém. Ou de ter tido alguém.
Estava no meu quintal brincando com meus filhos, quando vi o vulto dele no portão. No cumprimento cordial de bons vizinhos, notei algo errado nele.
- O Sr. está se sentindo bem?
- Não, minha filha. Meus 90 anos estão ficando pesados. Tenho muita tonteira e não estou enxergando nada. Todo dia peço à Deus para me levar, para que eu tenha meu descanso.
Pensei na solidão que a velhice pode trazer. Na dor do abandono. No silêncio da tristeza. Na decepção que é criar filhos, educá-los, cuidar, amar e amar e depois ser esquecido, ficar jogado e diminuído.
Fiz um bolo. Levei para Seu Alfredinho que me agradeceu com um olhar afetuoso e um abraço apertado.A tarde passou gostosa e descobri que a dor do meu vizinho é a dor da alma. Dor que com o tempo, nem incomoda mais.
A inquietude dele e a ânsia em falar sobre sua vida fizeram-me pensar no meu pai. No quanto meu amor por ele é grande e que jamais, em momento algum da sua vida, vou deixá-lo só.
Aquela tarde tão farta de descobertas, me ensinou muito. Mas, a esperança vazia do meu vizinho e sua espera pela morte continuam me incomodando, muito, um tanto.
Seu Alfredinho.
Postado por
Flávia Almeida
24.4.08
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